TG35SS - Volume 1: Invocação do Herói (Einherjar Desperta) - Capítulo 3: Os Desastrados [Parte 4]

 

                                                 Parte 4

 

 ... Horrendo não é capaz de descrever.

 O lado negro de Ouka, sua “verdade”, seu motivo de lutar. A razão pela qual ela sai de controle.

 Era trágico demais.

 - Uma bruxa tirou tudo de mim, eu não vou perdoar nenhuma delas. Além do mais...

 Em suas pupilas azuis estavam chamas negras. Um impulso assassino, impulso direcionado para alguém que não estava ali. Para certa bruxa que claramente não estava ali.

 Depois de parar de falar no meio de uma sentença, Ouka olhou para a palma de sua mão.

 Cerrou os olhos e amargamente apertou o punho.

 -... Eu..Eu não vou perdoá-las. Eu vou exterminar bruxas por toda a minha vida, pelo bem das vítimas das bruxas. Foi o que eu jurei. É assim que eu tenho vivido até agora, e até... o dia da minha morte.

 - ............

 - Esse é o meu tudo.

 Depois de ter terminado de falar, Ouka encarou Takeru, cerrou os olhos e sorriu amargamente.

 - Você entende agora? Eu só vou causar problemas. Ao mesmo tempo, vocês vão acabar atrapalhando minha vingança.

 Ela pôs uma das mãos no peito e, um pouco triste, se desculpou com Takeru.

 - Eu já estou cheia de defeitos irreparáveis, não consigo mais me controlar. Por isso, me deixem em paz.

 - ..........

 - Eu não posso me tornar companheira de vocês.

 Com uma voz clara, com os olhos límpidos, de pé na frente de Takeru, Ouka...

 “Não, nada disso”

 Takeru negava as palavras de Ouka.

 Ele se lembrou do que havia acontecido uma semana atrás. Cenas de uma força absoluta com fios brilhando nas cores do pôr-do-sol passavam pela sua mente.

 Ootori Ouka.

 Para Takeru,

 Era a existência que havia causado sua mudança.

 Era a pessoa que fizera ele parar para pensar.

 No passado, Takeru, assim como Ouka, só vivera sob o ódio. Assim como Ouka, Takeru também estivera cheio de defeitos aparentemente irreparáveis certa vez.

 Mas ele foi capaz de parar. Desencadeada pela sua derrota, Takeru foi capaz de olhar para trás e refletir. Por isso ele se negava a aceitar.

 - Podemos sim, nos tornar companheiros.

(Nota de tradutor: “Companheiros” seria o mais próximo de “nakama”, que tem, na verdade, um significado muito mais profundo e importante em japonês.)

 Takeru rejeitava aquela solidão.

 - Não vou ficar contra a sua vingança. Mas uma vida cheia de nada além de vingança é muito triste, não importa o quanto eu pense, é triste demais.

 - ...Mesmo sendo, precisa ser feito.

 - Eu entendi, não vou parar você. “Nada virá da vingança”, não vou discursar palavras enfeitadas assim.

 - ...........

 - No lugar disso,

 Imaginando o que seria, Ouka inclinou o pescoço, em dúvida.

 Takeru olhou diretamente para Ouka e apontou para si mesmo, dizendo:

 - Deixe-me carregar metade do fardo.

 Com essas poucas palavras, as expressões faciais de Ouka desapareceram.

 “Carregar? O que é que ele quis dizer com isso”

 - Eu disse que vou te ajudar. Você e eu, juntos, iremos sair com tudo e trazer justiça para as bruxas más e conseguir vingança pela sua família. O que você acha?

 Ouka estava sem palavras.

 Como se ela sequer entendesse o significado.

 - ... O que... Você...

 - Exatamente o que você ouviu.

 Graças a Takeru, que dizia esse tipo de coisa com uma cara limpa, a raiva de Ouka finalmente explodiu.

 - Por que você está convencido assim?! Por que alguém sem relação nenhuma como você me ajudaria com a minha vingança?!

 - Já te disse, porque somos companheiros.

 Takeru falou com a cabeça inclinada como se fosse óbvio.

 Ouka, confusa, apoiou a testa na mão.

 - ... Mesmo assim... Como é que isso virou motivo para me ajudar...

 - Não posso?

 - Você não conhece limites? Isso é ser muito intrometido! Minha vingança é apenas minha.

 - Não é como se eu estivesse roubando algo de você. É como se houvesse duas pessoas fazendo o trabalho de uma, não? É simples, até um macaco conseguiria entender. Até eu consigo.

 - Ughh?!.... não, não, não! Eu não posso te envolver com os meus problemas.

 - Hm? Eu não me importo nem um pouco.

 - Eu me importo!

- Eh...? Por quê?

- Takeru fez uma expressão em dúvida e inclinou a cabeça novamente.

 As palavras de Ouka entravam por um ouvido e saiam por outro. Sua irritação se transformava em raiva e essa raiva era direcionada para Takeru.

 - Do que é que você está falando...?! Companheiros?! Ao ponto de se intrometer nas circunstâncias dos outros! Esse não é um motivo para se tornar um cúmplice na vingança de outras pessoas!

 Ouka disse tudo o que pensava, respirando pesadamente.

 Takeru estava no mesmo estado, Ele havia visto a verdadeira Ouka.

 - Não é só por que somos companheiros. Tenho outro motivo para te ajudar também.

 - Besteira...!

 - Você não está sendo sincera.

 Ouka se chocou e fez uma expressão de como se não houvesse entendido o significado.

- Ahn...? Eu não sendo sincera?

 - Então, porque você está chorando?

 ....................

 - ......?

 - Isso não são lágrimas? Você está derramando aos montes.

 - ...Não... Isso é...

 - Você esteve chorando desde que chegou aqui nessa lápide.

  Ouka tocou o lado da face pela primeira vez.

 Ela olhou, sem palavras, para a gota que pendia em seu dedo.

 - Lágrimas saem quando você está em dor. Mesmo que você resista.

 - Não... pode ser...

 - Não precisa resistir mais, Ootori.

 Takeru disse em uma voz tão gentil que impressionou Ouka.

 Ajudando-a com sua vingança. Na realidade, aquilo era puro egoísmo por parte de Takeru. Ele não negava. Mas no final, ele não podia deixar as coisas do jeito em que estavam.

 - Não posso mais deixar você ficar sozinha.

 Ele não podia mais se permitir que a garota em sua frente estivesse solitária.

 - Não como seu capitão, mas como ser humano. Eu, Kusanagi Takeru, vou andar junto de você.

 “Quando a vingança dela acabar, não haverá ninguém ao lado dela. Isso é triste demais”

 “É por isso” - ele pensou – “ que seria melhor trilhar esse caminho espinhoso com companhia”.

 - Não, vamos caminhar juntos. De agora em diante, vamos chorar juntos, sofrer juntos... e lutar juntos também.

 Se não havia mais ninguém, Takeru faria a tarefa ele mesmo.

 Quando um deles se cansar, este um irá descansar no ombro do outro.

 “Devo ser capaz de fazer pelo menos isso” é o que ele pensou.

 

 Com lágrimas escorrendo de suas pálpebras, Ouka estava chocada e confusa como um filhote de cervo vendo a luz depois de nascer.

 “ Contar com alguém....? Eu...? Mesmo sendo doloroso... A vingança pela minha família...?”

 “ De jeito nenhum. Não vou deixar. Não posso permitir. Não posso deixar que isso aconteça, não posso deixar que meus problemas incomodem outras pessoas ”

 

 Ouka secou as lágrimas e olhou para Takeru.

 “Essas lágrimas são uma mentira. Elas não são reais”; ela se forçou a manter uma aparência forte.

 - Ha... haha, me ajudar com o quê...? Ridículo. Em primeiro lugar, o que você pode fazer com sua força?

 - ... Você ainda diz isso... Com certeza, minha força pode não ser lá aquelas coisas. Mas deve bastar para parar suas lágrimas.

 - C-cale a boca! Não estou chorando! Você não prendeu uma bruxa sequer, nem apreendeu uma única Herança Mágica até agora... Como é que você pode servir para algo?! Alguém como você que só pode usar a espada... Não preciso de ninguém assim!

 - ...........

 - Esgrima não vai me ajudar com a minha vingança!

 Ela disse tudo aquilo sem pensar duas vezes, mesmo que ela realmente não precisasse de mais mãos para lutar, Ouka ainda assim provocava Takeru.

 - .........

 Isso claramente o irritava, mesmo assim,

 - ... Óqueeei, eu entendi.

 Ele declarou confiante e com uma expressão demoníaca. Ouka não sabia. Ela não havia visto Takeru perder a cabeça com aqueles bandidos, então ela não sabia de nada.

 Para este homem chamado Kusanagi Takeru, dizer que a espada é inútil é um tabu. Ele não consegue se controlar quando isso acontece.

 Agora que haviam chegado àquele ponto, ele iria fazer Ouka desistir.

 Takeru também tinha que conseguir sua própria vingança.

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