TG35SS - Volume 2: A Luta da Bruxa - Uma Batalha Pela Esperança: Capítulo 4 - Torneio de Batalhas Simuladas [Parte 2]

 

                                                      Parte 2

 

 Takeru se despediu de Mari e Ouka e saiu para seu trabalho de meio período.

 Usar Nikaidou Mari como isca era a estratégia que era usada por baixo dos panos.

 Uma van estava parada na frente do apartamento de Takeru.

 Dentro do veículo estava localizada a base estratégica móvel, onde vários monitores se alinhavam em uma penumbra. Era também possível ver várias armas de fogo penduradas nas paredes.

 Muitas pessoas digitavam e verificavam telas dos computadores enquanto um homem que aparentava ser um inquisidor encarava um único monitor com uma expressão severa.

 <Aqui fala a primeira unidade de monitoramento dos <Banshees>. Um dos nossos membros se chocou com um civil. Por sorte ele não foi notado graças à camuflagem ótica. Continuaremos com o monitoramento. >

 - Continuar coisa nenhuma. Retirem esse agente da missão imediatamente, se livrem desse incompetente.

 <Sim, senhor! Mil desculpas!>

 Depois de instruir o esquadrão <Banshee>, Kurogane Hayato retirou o microfone de sua face.

 Sua subordinada, outra integrante dos <Dullahans>, trazia dois copos de café sem tirar os olhos do monitor.

 - Você se deu ao trabalho de deixar o grupo sair da escola e eles nem os atacaram... Vai entender a <Valhalla>... – Sussurrou a mulher

 Ela deixou um dos copos na frente de Hayato e se afastou para olhar outras telas.

 - Não baixe a guarda. Esteja preparada para contra-atacar a todo e qualquer momento –Disse ele sem tirar os olhos do monitor.

 - O senhor não está um pouco atento demais? Talvez a <Valhalla> nem planeje atacar aqui e não sei se toda essa vigilância é tão necessária – disse uma garota ao lado dos dois.

 - Você... Você era a novata que foi transferida dos <Banshees> para os <Dullahans>. Por acaso já cruzou com alguém da <Valhalla> alguma vez?

 - Hm? Não, ainda não. Por que a pergunta?

 A mulher de cabelos negros estava ao lado de Hayato organizando relatórios e documentos quando falou:

 - Não ouse subestimar esses terroristas. Eles sempre usam métodos além da nossa imaginação para assassinar um alvo.

 - ...Imagino que sim. Mas talvez eles tenham deixado ela em paz...

 - Hayato, sem desviar os olhos do equipamento, pensou em outra forma de convencer a novata e disse:

 - Você sabe por que os humanos foram capazes de vencer a Grande Guerra de Caça às Bruxas?

 - ...Porque armas de fogo são superiores à magia, certo?

 - Não. Há mais motivos: tínhamos uma enorme vantagem numérica. Armas de fogo foram meramente meios de nos compararmos com nossos oponentes. Pode-se dizer o mesmo da nossa força militar, que produziu estratégias e poder de batalha também.

 - Mas isso foi a 150 anos atrás, não? Certamente haviam bruxas com poder a par de um tanque de guerra, mas até chegarmos nessa geração o poder delas enfraqueceu muito.

 - Esses monstros de 150 anos atrás de que você acabou de falar... sobreviveram e formam a <Valhalla>.

 Desviando o foco de seu olhar para os documentos deixados em sua frente, Hayato perguntou:

 - Relatório da Mistilteinn?

 - Chegou a 20 minutos atrás. Não há anomalias.

 - Você checou os perfis dos estudantes que estavam com Kusanagi Takeru? Alguns deles estavam presentes na captura de Nikaidou Mari.

 - De fato. Kirigaya Kyouya, Yoshimizu Akira, Kitakami Heiji, Ishibashi Shinya, Mizuhara Ai. Evento notável depois da missão de captura envolve punição por conduta arriscada. Parece que eles estão deprimidos depois de perderem um membro, mas estão agindo como sempre.

 - Continue de olho neles.

 A mulher se retirou depois de dada a ordem.

 Hayato foi deixado livre para encarar o monitor e lamentar a falta de preocupação e senso de risco da atual Inquisição.

 - Atenção, todos os membros. Não se atrevam a pensar que talvez o inimigo não ataque. Ajam todos esperando pela pior das situações. Fui claro?

 - Entendido! – Exclamaram todos.

 Mesmo depois de uma resposta digna ele não conseguiu parar de se preocupar.

 Kurogane Hayato era um dos poucos <Dullahans> que sabia o quão terrível era a <Valhalla>.

 

 Duas da manhã. Takeru terminou seu turno em uma loja de conveniências de um posto 24h e voltava em silêncio para seu apartamento.

 Depois de cometer mais erros que o normal e receber uma bronca do gerente, O espírito de Takeru estava no limite. Para ele, que não conseguia fazer nada bem a não ser lutar com espada, precisar trabalhar era simplesmente uma tortura. Se ele perdesse a concentração nem que por um instante, todo o seu trabalho iria para os ares. Por isso ele se sentia muito mais cansado e pressionado que uma pessoa normal.

 - Haha..... Viver é dureza....

 Depois de dizer palavras deprimentes para um garoto de sua idade, ele subiu as escadas do complexo até o apartamento mais fundo.

 Olhando para as contas de água e luz, ele abriu a porta.

 - Cheguei... – Sussurrou ele para si mesmo. Ele tirou os sapatos na entrada e abriu a porta da sala como sempre.

 - Mas o qu-

 Seus olhos encontraram os de Mari.

 Por ele ter voltado para a casa cansado como sempre, ele esqueceu que Mari estava passando a noite ali.


 A imagem que ele viu ficou queimada em sua retina. Mari parecia ter tomado um banho e estava secando o cabelo com uma toalha. Ela não vestia nada.

 Ela tinha um corpo sinuoso, mas feminino, a pele estava avermelhada e o cabelo, molhado.

 Acima de tudo, aqueles modestos... ainda na fase de crescimento (ou pelo menos era como parecia)... dois pequenos montes. No momento em que ele avistou aquilo, o som das batidas cardíacas rugiu em seu peito.

 - Ah... Erm... Bem... Não...Isso é..

 - .........~~~~~~~~

 “Essa não. Eu vou apanhar. Claro que sim, não tem como eu não apanhar.”

 Pensando daquela forma, Takeru estava pronto para se virar e correr com todas as forças.

 - ...V-você chegou c-cedo...

 Mari rapidamente escondeu seu corpo com uma toalha. Ela abaixou o rosto e olhou timidamente para ele.

 Ele não havia sido golpeado depois de esbarrar com ela depois do banho, mas se ele não havia recebido nem um soco, como ele deveria responder? Ninguém podia culpá-lo por se sentir envergonhado.

 - Humm...

 - ............

 - S-será que você poderia... esperar mais um pouco lá fora...? Isso me deixa um pouco... desconfortável.

 Desviando seus olhos com cílios carregados de gotículas Mari disse:

 - N-não fique me olhando tanto... Não tem nada aqui.

 Ouvir uma frase matadora e gestos tão doces fez o rosto de Takeru se tingir de vermelho.

 Naquela atmosfera bastante desconcertante, Takeru deu alguns poucos passos para trás para sair do quarto.

 Nesse instante,

 - Kyaaaaaaaaaaaa!!!

 Um grito ressoou pelo apartamento, mas não era o de Mari.

 Surpresa e curiosa sobre o que estava acontecendo, Mari se virou para a porta do banheiro. A mesma que se abriu com um enorme estrondo *Blam* e revelou uma mulher molhada pulando do cômodo.

- Sua.. O que você tá fazendo parad- Uwaaaaaa!

 - hm?! Espera, não venha pra cá, sua best- Agh!

 Ela veio, era Ouka. Pulando para fora do banheiro com olhos cheios de lágrimas ela trombou com Mari.

 

 As duas perderam o equilíbrio e caíram em direção à Takeru. Os três desabaram na frente da porta de entrada. O rapaz desabou de um jeito que o fez encarar as duas garotas nuas.

A poeira mal começara a abaixar e o rosto de Mari mostrava fúria.

 - Olha aqui, você...  O que deu na sua cabeça pra pular assim do nada do banheiro?!

 - A-a-apareceu! Fan-f-fantasma...! Uma mulher de cabelo longo e molhado saindo da banheira!

 Ouka estava pálida e tremendo enquanto abraçava Mari e Takeru. A bruxa olhava para a inesperada tremedeira de Ouka com olhos perplexos.

 E, parando para pensar em sua situação, disse:

 - Uh... Hum... Isso, isso não tem como ser culpa minha, não é? Não fiz nada de mal, tá?

 Mari e Ouka notaram Takeru debaixo das duas.

 Já que Takeru estendeu os braços procurando evitar a queda das duas, sua mão esquerda agarrava o seio de Mari, enquanto a direita apalpava o seio de Ouka.

 Era uma sensação de bastante contraste para ele, de um lado era *fon fon* e do outro era *boing boing*

 Para ele, ambos eram agradáveis. Porém, ele não podia se dar ao luxo de apreciar mais daquele momento.

 As duas perceberam as ações de Takeru e passaram a encarar o garoto.

 Receber dois olhares perfurantes fez o rosto do capitão se avermelhar e ele esboçou um sorriso sem jeito enquanto começava a rezar.

 Naturalmente, ele apanhou das duas daquela vez.

 

 

 - *suspiro*

 Depois de tomar um banho como planejado, ele abriu a porta do banheiro e viu Ouka já adormecida dentro de seu saco de dormir.

 Já que a existência paranormal desapareceu com a chegada de Takeru, a garota dormia como uma pedra.

 Ouka não se dava bem com histórias de fantasmas, era até surpreendente ela ter esse lado.

 Mari, por sua vez, estava sentada na borda de uma janela aberta, observando melancolicamente algo lá fora.

 Apesar de ter comprado algumas roupas íntimas, ela não tinha nenhuma outra roupa limpa, então ela vestia a camisa de Takeru.

 A camisa banca era comprida demais e muito larga, já que aquele não era o seu tamanho. Justamente por isso parecia que ela não usava nada e estava apenas coberta por aquele tecido.

 Takeru não sabia em que canto seria seguro olhar para ela. Ele foi até a geladeira, pegou duas garrafas de água e jogou uma para Mari.

 - Valeu...

 Mari sorriu timidamente e agradeceu.

 Ele se sentou no chão, ao lado da janela, e levou a ponta da garrafa à sua boca enquanto olhava para Mari, iluminada pelo luar.

 - E então? Como foi o seu primeiro dia na nossa escola?

 - ...Bem, nada demais. Cansativo. O nível da classe é baixo e me obrigaram a fazer exercícios absurdos, quanta brutalidade! Fui infernizada por uma sargento por algum raio de motivo!

 Amarrando a cara, Mari começou a reclamar.

 - E que tal o Pelotão dos Zeros-à-Esquerda? Sentiu que consegue se enturmar? – Perguntou o rapaz.

 Mari estreitou as pálpebras e olhou para baixo.

 - Uma pergunta dessas... Como eu vou saber?...

 Um sorriso amargo se formou no rosto de Takeru depois de ouvir uma resposta nem positiva nem negativa.

 - Mas você e Ootori se dão bem de alguma forma, não?

 - Como? De onde você tirou uma coisa dessas? Nós obviamente somos incompatíveis ao extremo.

 Ver ela negar com tanta intensidade faz Takeru soltar uma pisada baixa.

 - Bem, não tenha pressa. Mesmo sendo uma período de adaptação você sabe que vai ingressar oficialmente assim que tudo for arrumado, certo?

 Mari ficou em silêncio.

 - Eu não me incomodo nem um pouco pelo fato de que você é uma bruxa. Caso você tenha se perguntado, as outras pensam igual a mim.

 - ...................

 - Ootori não é diferente. O ódio dela é voltado para os criminosos, não para as bruxas. Você deve estar pensando que eu estou falando bobagem, né? Se ela realmente pensasse que você é má, ela não estaria brigando de frente com você assim.

 - ..................

 - Usagi e Suginami também, elas vão te tratar normalmente depois de conversar um pouco mais com você. Pode confiar, eu me acostumei com elas desse mesmo jeito.

 - ......................

 - Elas podem ser bem chatas as vezes, mas com o tempo eu tenho certeza de qu-

 - Pare.

 Takeru olhou surpreso para Mari depois de ser interrompido tão subitamente.

 - Por favor... Pare de falar assim...

 Mari falou com um rosto que parecia ser uma máscara, querendo fingir algo.

 - Desculpa. É que você quando você fala desse jeito tão amigável, eu abaixo a minha guarda. Você é assustador, Takeru.

 - A-aonde você quer chegar?

 - Eu sou uma bruxa. Você é um humano. Eu já sabia, mas os nossos mundos são mesmo muito diferentes.

 - De onde veio tudo isso? O que houve?

 Ela estava com uma dor de cabeça, por isso pousou a mão na testa enquanto fechava seus olhos.

 - Eu não sei... Mas eu... Não sou como você pensa.

 O rosto de Mari estava tão cinza quanto a lua que a iluminava e seus olhos, pálidos como as estrelas por causa da enxaqueca.

 - Eu ainda... Não me lembro bem... Mas essa é a impressão.

 - Não se lembrar... do que você está falando?

 - Eu vou... Com certeza machucar você.

 Seus olhos levemente úmidos encontravam o olhar de Takeru quando ela desviou o foco e se levantou.

 - Desculpa... Esqueça o que eu disse. Vou dormir e você deveria fazer o mesmo, daqui a pouco vai amanhecer.

 Mari afundou em suas cobertas sem olhar para trás.

 - ... Boa noite, Takeru.

 Ela virou as costas para ele enquanto adormecia.

 Takeru ouvia as respirações de Mari e Ouka no silêncio da noite enquanto ele ainda processava, surpreso, o que havia acabado de acontecer.

 Ele olhou para fora, o céu mudava de cor como se o dia começasse a raiar em breve. Mas o coração de Takeru não estava tão claro e límpo como o céu do amanhecer estava.

 

 Mari se enrolou em um futon e olhou para as costas de Takeru.

 “Por que eu... Fui fazer uma coisa dessas...”

 Ela agarrou as laterais da cabeça, que ainda doía.

 Dor surgia a cada segundo que passava, como se memórias fossem marteladas novamente em seu cérebro.

 Cada pontada de dor era uma lembrança que aparecia como um flashback.

 Imagens pouco detalhadas, como se fosse uma visão periférica, surgiam e revelavam fogo, chamas, corpos se reerguendo.

 Na cena que se passava dentro da cabeça de Mari, a garota encarava um rosto que lhe disse:

 [ A Magia... Existe para trazer felicidade às pessoas.]

 Misturada no fundo de suas memórias, uma voz ecoou na mente de Mari. A voz era muito nostálgica, cruel e vindo do fundo do coração dela.

 “O que é essa coisa...? São as minhas memórias...?!”

 Mesmo sem saber do significado ou das circunstâncias daquela lembrança, seu corpo começou a tremer. Sem saber porque ela achava assustador, seus dentes começaram a bater.

 [ Ma...Ma...]

 Uma estranha voz infantil chorando pela mãe.

 Aquela voz soava como se culpasse Mari por algum motivo.

 [Você não merece viver uma vida normal. Você é uma bruxa. Seja esmagada pelos seus próprios pecados]

 Inúmeras vozes sem forma repreendiam Mari.

 Mari apertou ainda mais as pálpebras dos olhos e abraçou os joelhos.

 Ela havia retido apenas uma parte de suas lembranças, mas apesar de não saber quem era, ela sentia como se não quisesse lembrar.

 Será que é algo imperdoável...? Não se lembrar de nada, andar com Takeru e  as outras, isso seria perdoável?

 Mari não conseguia se livrar desse desconforto não importava o que ela fazia.

 

195º torneio de batalhas simuladas da Academia Anti-Magia.

 A competição anual era levada em duas categorias: as preliminares e a o campeonato principal; dividida em três categorias: primeiro ano, segundo ano e terceiro. A competição consistia em batalhas de pelotão contra pelotão.

 Rifles de precisão, metralhadoras, pistolas, todos podiam escolher uma arma para cada tendo como munição balas de tinta com quantidade limitada. Armas letais para combate corpo a corpo era proibidas e eram trocadas por facas plásticas embebidas em tinta. Fogo amigo não era contabilizado. Nocaute através de artes marciais era válido, assim como acertar o cano da arma de seu oponente. Apesar de todas as regras, a possibilidade de ferimentos era considerável.

 O evento estava marcado para uma semana e ele daria 100 pontos para os pelotões que passarem pelas qualificatórias, além da admissão incondicional do vencedor nacional na Inquisição.

 Dez minutos por partida. Primeiros anistas competiam todos sob as regras do mata-mata.

 O cenário usado para o campo de batalha mudava todo ano e naquele a arena imitava uma zona urbana.

 - Aahh... Droga!

 *vup* *zup* Takeru precisava se mover desviando do entulho em seu cominho enquanto uma rajada de balas de tinta zunia em seu ouvido.

 Qualificatórias da categoria “primeiro ano”, primeiro assalto – 10º pelotão de testes contra 35º pelotão de testes.

 Depois que foi dado o sinal de início da partida, a formação do pelotão dos Zeros-à-Esquerda foi pelos ares e todos se espalharam enquanto o pelotão oponente executava um ataque cirurgicamente preciso.

 Dada a posição de duas pessoas na torre do sino de uma igreja, Takeru não conseguiria andar despreocupado ao redor da praça da fonte, lugar em que ele atualmente estava.

 - Usagi, consegue me arranjar um disparo de onde você tá?

 - É um p-ponto cego... um p-pouco mais... preciso ir um pouco mais para o lado. – disse o rádio com a voz de Usagi.

 Ela estava na pior situação possível. Um público gigantesco e uma tela enorme mostrando cada movimento seu resultavam em um medo de palco em um nível catastrófico. Sem contar que ela precisava abater duas vanguardas inimigas antes que o pelotão pudesse avançar.

 Apesar de ser ótima com tiros à longa distância, disparos à média e curta distância não eram sua especialidade.

 Para lidarem com a atiradora, o time inimigo correu para a direção de Usagi e se esconderam nas redondezas.

 - Uuuh.... Huuuuu~~ Ku-Kusanagi... Me ajuda~~~

 - Não chore... saiba que eu também estou numa situação em que quero chorar.

 Ele tentou acalmar Usagi esboçando um sorriso tenso.

 - Ootori, como está aí?

 - Cuidei dos dois que ocupavam a posição.

 - Uoooh, belo trabalho.

 - Não é hora para elogios, tonto. Eu preciso de qualquer jeito passar pela praça para salvar a Saionji. Daqui eu não consigo acertar os dois na torre do sino... Que droga, se eu pudesse trazer mais de uma arma eu já teria eliminado o outro atirador.

 Se Ouka estivesse com o rifle de assalto, ela poderia atirar apenas de uma distância média, pois as balas eram frágeis demais para alcançar uma grande distância, ao contrário das balas de rifles de precisão.

 - ...Mari, e você?

 Timidamente, ele perguntou sobre o estado de Mari.

 Depois de alguns segundos a resposta da garota veio:

 - Já disse antes mesmo da partida começar, você já esqueceu? – Respondeu.

 Takeru se calou.

 Ele se lembrou do que ela havia dito antes do sinal de início, quanto todos se reuniram para o planejamento.

 “ – Eu absolutamente não vou ajudar vocês de nenhuma forma, se quiserem algo feito, façam por conta própria.” – Havia dito prontamente.

 Naquela hora, membros se entreolharam e todos reagiram de formas diferentes: Ouka grunhiu e cuspiu no chão com a cara amarrada. Usagi esbravejou “Não precisava nem nos falar, não esperávamos nada de você mesmo.”. Ikaruga só levantou os braços e suspirou, aceitando o momento e Takeru se sentia um pouco decepcionado.

 Parece que não era certo pensar que ela se abriria com o pelotão pouco a pouco, no final das contas.

 Ela parecia querer evitar criar laços permanentes com eles.

 Talvez um dia não fosse o suficiente para se aproximar dela ou talvez eles tivessem dito algo que não deveriam.

 “Não, eu deveria me concentrar na luta de agora.”

 Takeru chacoalhou a cabeça e imaginou uma troca de marcha.

 “Ah, assim não vai dar... nós nem deveríamos participar e mesmo nem ao menos consideramos vencer. Ainda assim...”

 Ele resmungava baixo, escondendo seu corpo atrás do objeto e girando a faca em suas mãos.

 - Mesmo assim, ainda é um pouco frustrante...

 - Eu também quero tirar proveito desse sentimento para lutar, mas... Não sou cão que só ladra e não morde.

 - Uuuuuuhhh~~! A-ainda não acabou?!

 - Se soubéssemos do evento com mais antecedência, talvez poderíamos ter pensado em mais estratégias e contramedidas. Eu poderia até desenvolver armas especializadas para essa situação se eu tivesse tempo antes da luta.

 Parecia que todos carregavam sentimentos parecidos.

 Apesar de já saberem que eles perderiam, o pelotão ainda assim queria lutar e vencer, ignorando o título de Zeros-à-Esquerda, o pelotão mais fraco de seu ano.

 Resistir até o fim do assalto e esperar pelo intervalo ou executar uma investida suicida.

 Essas eram as duas únicas escolhas no momento.

 ...Mas o que os fez focar novamente na batalha foi uma voz áspera saindo do radio comunicador.

 - Ei! Zeros-à-Esquerda! Se vocês não saírem, esse joguinho vai demorar pra acabar! Não vão conseguir se esconder pra sempre, sabiam?

 - Há Há Há Há! O que é que vocês tinham na cabeça quando entraram no torneio? Queriam dar um showzinho e passar vergonha? Venham pra luta e mostrem a cara, seus masoquistas doentes!

 O décimo pelotão insultou interrompendo a transmissão com um comunicado em canal aberto.

 Era logicamente uma provocação, tática mais lógica quando se combate um oponente muito protegido. Por mais que pareça ser uma estratégia rudimentar, ações como aquelas eram bastante úteis durante o torneio.

 E O pelotão dos Zeros-à-Esquerda, apesar de não ter tantos resultados... Tinha muito orgulho ainda assim.

 - ................ x4

 Takeru tentou apaziguar a todos

 - ...E-ei, gente, vocês aguentam ouvir isso numa boa, né? Se tivermos calma e esperarmos uma chance pode aparecer. É só não virarmos uns kamikazes e perder a paciê-

 Mas antes que ele pudesse terminar a frase, outro comentário veio do lado inimigo:

 - Senhor capitão! Me mostre um pouco das suas incríííveis habilidades! São tããão maneiras.

 - É o castigo divino –degozaru! Temam a minha poderosa espada –degozaru.

 - Sério mesmo, espadas são tão inúteis! É um pedaço de sucata nojenta e ultrapassada!

 Toda e qualquer expressão deixou o rosto de Takeru.

 - K-kusanagi? Você... Está...

 - Tudo bem, eu estou ok. Não estourei. Não estourei. Ainda.

 - Olhos arregalados podiam ser vistos no rosto de Takeru e uma risada seca saia e sua boca.

 Aquele par de pupilas poderia pertencer a um animal, brilhando no escuro da noite.

 - Sem problemas...  heh heh heh heh. Eu estou tranquilo. Não vou sair matando sem pensar. É só eu desviar. Só preciso evitar tomar tido. Mas acho que só um pouquinho...

 - .......... x4

 - Dar um sustinho neles não deve acabar mal.

 Takeru já estava completamente imerso em seu modo frenético.

 Ouka ficou levemente assustada com a mudança repentina de Takeru, as outras duas não pareciam achar nada estranho.

 - Não imaginei que chegaria um dia em que eu aprovaria o descontrole de Kusanagi, mas vou fingir que não vi nada. Depois disso eu também perdi a paciência.

 - Dessa vez tudo bem. Se você se machucar, essa onee-san aqui vai fazer massagem em você. Caia em cima deles com todas as forças, esmague cada um deles.

 Takeru se levantou depois de receber apoio das duas garotas.

 - Escutem, pessoal. Eu tenho certeeeeeza de que vamos ganhar isso.

 Ele agarrou ainda mais forte o punho de sua espada ainda com uma cara de possuído.

 - ...Ootori.

 - Ah! Hum? O que foi?

 - Eu vou ser a isca e ganhar tempo. Limpe a área dos dois fracotes perto de Usagi.

 - Não tem nenhum problema? As suas técnicas não colocam uma pressão tremenda no seu corpo?

 - Está tudo bem, confie em mim.

 Ouvir Takeru falar em um tom tão assertivo e seguro fez Ouka engasgar.

 Takeru sacou sua lâmina de plástico pouco antes de falar para Ouka.

 - Corra!

 - E-entendido!

 Assim como lhe foi pedido, Ouka se pôs a correr exposta na praça da fonte.

 Em sincronia, Takeru lentamente se moveu de sua cobertura.

 - Seus idiotas, vocês são fáceis demais!

 A ponta do rifle brilhou no topo da torre do sino e um ruído seco de disparo ressoou.

 Voando direto para Takeru, a bala de tinta zunia pelo ar e... Foi partida ao meio antes de o acertar.

 O atirador checou pela mira mas a bala não havia acertado Takeru.

 - O qu-

 O que ele viu ao invés disso, foi um demônio caminhando lentamente até a torre do sino.

 Ele emitia uma aura quase visível de vermelho-sangue e uma vibração parecida com um rosnado baixo. Seus olhos estavam abertos a ponto de quase saírem das órbitas. Sua boca se retorceu para formar um sorriso ameaçador como a de um lobo mostrando as presas e segurava uma lâmina brilhante.

 - Uwaaaa!!!! – Gritou instintivamente o atirador.

 Takeru parecia com um monstro ameaçador para ele.

  - Discípulo da escola Kusanagi – estilo Gume Duplo, Kusanagi Takeru. Meu corpo será meu próprio escudo! Não pensem que poderão passar, seus insetos.

 Na verdade, ele aparentava ser a própria personificação de um Asura, com uma adrenalina superfluamente alta.

 - A-Atirem! Atirem neleee!

 - Tremam de medo! Nem pensem em pegar leve comigo! Façam como o atirador de vocês e atirem até que  eu vá aí matar cada um!

 - As balas não acertam nele! N-não venha aqui, não venha, não venha!!!

 - Ahahahahaha! Divertido, não é? Não acham divertido?! Ahahahahaha!

 Mari estava sentada com uma expressão frágil em um pedaço de entulho no canto de início da partida, foi quando a voz de Ikaruga, cheia de si, inundou o comunicador:

 - É incrível não importa quantas vezes eu olhe. Você não pensaria que ele tem uma personalidade bipolar.

 - E-esse é o mesmo Kusanagi?

 - Costumava ser... Bem... Muito disso também vem do estresse da rotina e da frustração. Você não se sentiria mal se nós não deixássemos ele enlouquecer assim?

 - Ei, isso não deveria ser o maior problema aqui.

 - Mas nessas horas ele não vai durar muito. Ootori, melhor se apressar. Não vai demorar até que ele se quebre.

 - Se quebre?

 Uma interrogação pairava no topo da cabeça de Ouka e pouco tempo depois disso,

   *Clank*

 - Gaaahhh!

 Subitamente, o grito de Takeru pode ser ouvido.

 - O que houve?!

 A resposta para a pergunta de Ouka veio como um grunhido.

 - Om- ombro... deslocado.. Mgh.

 *Plat* *Plat*

 Sons das balas de tinta estourando ressoaram pela arena.

 - Se-seu idiota! Isso acabou cedo demais, não importa como eu olhe. Aguente mais um pouco! Como eu, que acreditei nas suas palavras, fico?! O atirador agora tá mirando em mim!

 - D-desculpa, não posso ver nada porque uma bala de tinta acertou o meu rosto.

 - Como sempre, não sei dizer se você quer ajudar ou não.

 Para ela não era difícil imaginar Takeru choramingando depois de voltar ao normal.

 Ao invés de virar o jogo, a situação piorou.

 - Só mais um pouco até o local da Saionji... Só um pouquinho mais...! – Murmurou Ouka, frustrada.

 - N-não vou conseguir aguentar por muito tempo também, minhas balas estão para acabar.

 Junto do alerta de Saionji, tiros e gargalhadas da vanguarda podiam ser ouvidos.

 O comunicador ficou em silêncio.

 Mari suspirou.

 - O que eles estão fazendo...?

 Apesar de tudo, ela não poderia honestamente dizer que não esperava por aquilo.

 A começar por Usagi, ela era a única que estava verdadeiramente motivada e depois de terem caído em uma provocação tão estúpida, Mari imaginava o quão bobos todos eles eram.

“Mesmo os zeros-à-esquerda têm um orgulho de zeros-à-esquerda? Ter coisas que não devem desistir?”

 “Bobagem, perda de tempo. Eu não tenho nada a ver com isso, não sou companheira coisa nenhuma e nem sequer queria virar uma inquisidora mesmo.”

 Ela ainda não lembrava sobre si mesma, apesar de vagamente reconhecer que vivia em um mundo diferente do deles. Ou pelo menos era o que sua memória a dizia.

 Por esse motivo Mari apenas olhava o pelotão a distância com olhos frios, havia praticamente uma muralha entre eles e ainda assim...

 - O... O que eu estou fazendo aqui?

 “Por que? Por que eu quero correr desesperadamente para onde eles estão?”

 - Sério mesmo... Por que eu estou aqui parada?

 Mari, na verdade, sentia inveja. Ela invejava a capacidade deles de se desesperar por uma coisa tão pequena.

 Ela simplesmente queria aquilo para ela.

 Ser parte do Pelotão dos Zeros-à-Esquerda, ser provocada pelo décimo pelotão e ficar furiosa com eles por isso. Aqueles idiotas patetas estavam sofrendo e ainda assim queriam tanto ganhar.

 Acima de tudo, Mari simplesmente achou interessante. Não era mistério nenhum o porquê de seu coração estar dançando no peito.

 Aqueles últimos momentos, aquele conflito final.

 Se ela achasse um jeito de todos escaparam da situação ela se sentiria melhor consigo mesma. Percebendo isso, Mari sorriu levemente.

 - Acho que eu também sou uma idiota... Caramba!

 Ela continuou a se questionar mesmo depois de empunhar a submetralhadora que lhe havia sido dada e pular para a praça da fonte.

Mirando a ponta da arma para o céu e olhando para o alto, ela parou por um segundo.

 - Sejam gratos, Pelotão dos Zeros-à-Esquerda. Só desta vez, só desta, eu, a grande Mari, vou dar uma mão a vocês.

 Neste momento de desespero, ela apertou o gatilho.

 Rajadas de tiros se espalharam pelo ar, fazendo com que o atirador inimigo mudasse seu alvo para a pequena bruxa.

 Balas de tinta saíram do cano da arma do rapaz e acertaram o corpo de Mari.

 Mari permaneceu no mesmo lugar mesmo coberta de tinta amarela.

 - Mari virou a Isca. Agora, Ootori!

 - Já cuidei da vanguarda por aqui. Saionji!

 Ouvia-se sons de corrida de Saionji.

 - Consigo ver! Duas pessoas na torre do sino, abatendo agora!

 Um disparo ressoou distante.

 Mari olhou para o céu enquanto ela suspirava. O estádio inteiro estava coberto por um pesado e puro silêncio.

 Um alarme anunciando o fim da partida tocou e os gritos eufóricos da plateia rebombavam em cada centímetro cúbico de arena que havia.

 [ - Os vencedores da primeira rodada qualificatória foram decididos! Primeiros-anistas, Bloco C: 35° Pelotão de testes! Uma salva de palmas para eles!]

 Ouvindo o anúncio dos alunos fazendo comentários ao vivo, todos os membros do pelotão dos Zeros-à-Esquerda berraram de alegria em seus comunicadores.

 Ninguém poderia prever a vitória do pelotão dos Zeros-à-Esquerda.

 - O que é isso...? Eu to... Me sentindo muito bem...

 Mari abaixou a borda da boina para esconder seu rosto cheio de tinta.

 Seus lábios não estavam muito bem ocultos e pode-se ver um inocente arco em seu rosto, rindo alegremente.

 

 

 - Viram? Apreciem meu grande ato! Nós conseguimos vencer assim como eu disse! Estejam gratos a mim por nos inscrever! Ohohohohohohoh!

 O pelotão dos Zeros-à-Esquerda venceu “com louvor” a primeira rodada e haviam voltado para a sala do pelotão para descansarem seus corpos.

 O torneio era levado durante a semana inteira e como a segunda rodada estava programada para o dia seguinte, as atividades do pelotão estavam encerradas pelo dia.

 - Mas essa foi só a primeira batalha. Não vamos sair com nada a não ser que ganhemos pelo menos a categoria dos primeiros-anistas. Pessoal nem um pouco exigente. – Disse o capitão.

 Takeru, cheio de hematomas azuis, deitava em um sofá enquanto recebia curativos de Ikaruga para dores terríveis nos músculos.

 - Não! Esse é um grande passo para o pelotão! Nós começamos essa curta caminhada para chegarmos na vitória! Deem o braço a torcer, agradeçam a mim!

 *huuf*

 Usagi tomou fôlego e estufou o peito.

 - Sim, sim, incrível. Usagi-chan se saiu muito bem.

 - N-não me chame de “Usagi-chan”! Isso não me parece nada com um elogio!

 Usagi tentou avançar em Ikagura, mas não conseguiu porque teve sua cabeça segurada à distância por ela.

Takeru esboçou um sorriso ao ver as duas como sempre e afagou a compressa colocada em seu braço.

 - Vocês todos se esforçaram tanto hoje, bom trabalho.

 - Com “todos”, não se esqueça da Suginami e o seu erro logo de início.

 - ... Se você agira assim eu vou ser obrigada a massagear os seus peitos.

 - Uwaaaa! Eu já disse pra ficar longe deles!

 Os seios de Usagi foram vigorosamente massageados bem ao lado de Takeru, mas o mesmo olhou para Mari, que sentava-se no sofá do outro lado do cômodo. Ela havia acabado de tomar banho para se livrar da tinta e como não tinha nenhuma toca de roupas, ela estava vestindo a camisa de Takeru.

 - Bem, vamos todos concordar que a estrela de hoje foi a Mari, não?

 Ela parecia surpresa e em uma fração de segundo, virou o rosto para o outro lado.

 - Eu não... Eu só tomei tiros. Não é como se eu tivesse feito nada de especial.

 O rosto de Mari ficou levemente corado, o que atraiu olhares de todos. Com isso ela ficou ainda mais envergonhada, avermelhada e lagrimas brotavam no canto de seus olhos.

 - Puxa, isso foi rápido. – Disse Ikaruga.

 - O-o que foi?

 - Você se derretendo.

 - N-não estou!

 - Não? Então o que será que te moveu tanto durante a partida?

 Mari não tentou negar o que tinha feito e ao invés de corrigir Ikaruga, ela tentou esconder o rosto dentro de sua boina.

 Vendo aquilo, Ikaruga soltou uma risada suave.

 - Olha só pra você, pagando de durona mas toda sorridente por ter vencido.

 - N-não estou!

 - Tsundere, né...? Não tão original, mas um bom clássico. Bem na hora em que precisávamos de uma de peitos pequenos dentro do pelotão.

 - Como é qu? Ei! Que grosseria! Como assim ‘pequenos”?!

 Ser insultada fez Mari se inclinar em direção à Ikaruga. Os olhares do pelotão se dirigiam para Mari, ou melhor, para o peito dela.

 Uma pequena elevação poderia ser observada nas roupas por causa da postura.

 - ..............

 - ..... É uma tábua.

 - Argh, Calaboca!

 - E-eu acho que eles são OK. Olha, toda essa coisa de “tamanho é documento” é coisa do passado.

 - Acho melhor parar com isso ou eu vou aí te dar uns tapas.

 Olhos de Mari se enchiam de lágrimas. Ela checou o volume do resto do pelotão.

 Ouka : Grandes; Suginami : Enormes; Usagi : loli peituda

 - Uuuuuuuuuhhhhghhhn...!

 Com uma das mãos no tórax, ela se virou para a geladeira, onde sua última esperança estava.

 Despercebida, lá estava Lapis, mastigando uma fatia de presunto.

 Mari olhou para o peito de Lapis.

 Lapis : Companheira

 Ser comparada a uma criança fez Mari derramar lágrimas de derrota. Ikaruga se sentou ao lado de Mari e pousou sua mão no ombro dela

 *Pat*

 - Não é ótimo? Ter uma companheira?

 No rosto de Ikaruga surgia o sorriso de uma deusa benevolente.

 - Você me tira do sério! Como você me irrita! Por que você está toda sorridente?! Não tente vir com seu consolo sarcástico!

 - Será que todas as bruxas têm peitos pequenos?

 - O que tem a ver uma coisa com a outra?!

 - Bem, essas coisas só serviriam pra seduzir o Kusanagi, certo? Faz tanta diferença não ter nada aí?

 “Como é que eu fui parar no meio disso?” – pensou Takeru

 - Não fale como se eles fossem inexistentes!

 - Eles praticamente são.

 - Eu tenho um pouco sim! Tenho orgulho da textura e elasticidade deles!!

 Ikaruga se interessara pelas características de peitos pequenos e começou a brincar com Mari a respeito disso.

 Mari, aparentemente, sentia um impulso em ter a última palavra sempre que Ikaruga mencionava “peitos pequenos”.

 - É como Suginami disse! Essas coisas só atrapalham! Deixam seus ombros doloridos e atrapalham na hora de atirar com o meu rifle! Dói quando o coice da arma acerta seu peito depois de um tiro.

 - Para de esfregar na minha cara!

 Por mais algum tempo, as três continuaram a brigar.

 Takeru criou um pequeno sorriso ao assistir aquela cena. Olhando para ela daquele ângulo, Mari não passava de uma garota normal. Coisas como “ser uma bruxa” ou viver em um mundo diferente do deles não importavam nem um pouco. Takeru pensou em como o pelotão eventualmente se acostumaria com a presença de Mari e sumiriam com suas lágrimas imaginárias.

 Os membros do pelotão se dariam melhor com o passar do tempo e até mesmo Ouka, de alguma forma iria...

 Takeru olhou em direção a Ouka. Ela estava escorada na parede com os braços cruzados.

 - ...O que foi, Kusanagi?

 - Por que você está parada aí atrás? Venha cá.

 - ...P-por quê?

 - Acabamos de vencer a primeira partida com um esforço e tanto, não? Temos que comemorar, vamos.

 Takeru pegou um copo com suco de laranja da mesa e ofereceu à Ouka.

 Ela parecia desconfortável por um momento, mas no final ela caminhou até o capitão com passos ruidosos e aceitou a bebida.

 Foi quando seus olhos encontraram com os de Mari.

 - ...O que foi?

 Mari encarava Ouka.

 De primeira, Ouka devolveu a encarada, mas acabou desviando o olhar e deixou escapar uma feição que dizia “desconforto”.

 - ...bem, erm... Não sei se... vou reconhecer você por... Mas, hum, agir como distração... Honestamente, você me salvou.

 Quase gaguejando e com voz falhando, ela agradeceu enquanto fazia um pequeno curvar com a cabeça.

 Ser agradecida, principalmente por Ouka, estava fora de suas expectativas. Mari desviou o olhar com bochechas rosadas.

 - N-não é como se eu tivesse feito isso pra te ajudar. Não entenda mal, sério, é nojento.

 Ao ouvir tudo aquilo logo de cara, Ouka mudou sua expressão em um piscar de olhos.

 - ...Ah sim, foi uma ótima isca. Você realmente me salvou. Mesmo você, que é uma imprestável, pode servir como um espantalho. Impressionante.

 - Nghh.. Ah é mesmo? Eu precisei carregar um certo Alguém porque esse certo Alguém jogou no lixo a brecha que o Takeru criou agindo como isca. Talvez eu não precisasse ter agido se esse Alguém tivesse...

 - Você...! Não tem como eu te reconhecer mesmo! Eu absolutamente nunca vou aceitar o alistamento de uma bruxa como você!

 - Como é? Eu me recuso também! Por causa de donzelas filhas-de-papai como você, esse grupo vai apodrecer junto.

 Novas faíscas voltaram a aparecer entre Mari e Ouka.

 Depois de refletir um pouco, Takeru começou a pensar que aquela talvez fosse uma boa atmosfera.

 - E...Erm! Vamos deixar a briga pra depois, que tal? Não é melhor trocarmos de roupa e passear pelo coliseu? Vocês não comeram nada então devem estar famintas, não? A escola montou barracas de comida ao redor da arena pra ficar durante o torneio. Participantes comem de graça, é melhor aproveitarmos.

 Lapis foi aquela que reagiu rápido à palavra “comida”. Tendo acabado com o presunto que estava na geladeira, ela correu até Takeru com sons de passos leves e pusou levemente sua manga.

Ouvir sobre as barracas fez os olhos de Mari se iluminarem com curiosidade.

 - De graça... Todas as comidinhas?

 - É, o Diretor traz comerciantes todo ano. Eles reproduzem as tendas ortodoxas que existiam antes da Grande Guerra aqui. Velhas barracas ao estilo japonês, algumas não são de comida, como a da pescaria.

 Os olhos de Mari reluziam. Talvez fosse sua primeira vez participando de um festival como aquele.

 Assim que Takeru pensou que elas haviam deixado a briga de lado, Ouka se virou de costas.

 - Desculpem, vão na frente sem mim. Preciso entregar um relatório para o Diretor. Ainda estamos em uma missão de escolta, afinal de contas. É necessário informar nosso progresso.

 Ikaruga, ouvindo Ouka, interrompeu.

 - Isso pode esperar, não? Vai atrapalhar a atividade em grupo se fizer isso agora.

 - Negativo. Esta é uma missão do Diretor, então a entrega precisa ser imediata.

 - ....E como sempre, você tinha que estragar o clima, não?

 - Grrm... S-se eu digo que não tem como, então simplesmente não há! Apenas isso. Me deixe em paz.

 Escapando do gancho que Ikaruga armou pra ela, Ouka se levantou para sair da sala do pelotão. Ela parou com a mão na maçaneta e olhou para Takeru.

 - Humm... Kusanagi, depois de eu terminar de reportar para o Diretor, eu vou te contatar com um email... com detalhes de quando e onde... Erm... eu quero conversar com você depois.

 Quando Takeru recebeu o pedido daquela forma, ele quase se engasgou com o succo.

 - Tudo bem. Vou te esperar lá.

 - E-entendi. Valeu.

 De alguma forma, ser agradecido de uma forma tão hesitante fez Takeru ficar bastante feliz.

 - Bem, vamos olhar por aí. Lapis, quer comer o quê?

 - Eu quero comer balõezinhos de água.

 - ...Você não pode comer isso. Além do mais, não desapareça e apareça do nada, por favor.

 - Não me importaria se você pensasse de mim como uma mulher misteriosa.

 Takeru esboçou uma expressão neutra. Ele não sabia o que ela queria dizer mas preferiu não pensar muito nisso.

 - Quero comer aquela coisa de algodão de açúcar. A última vez que eu comi foi a anos trás!

 - Usagi, não coma algodão doce... isso é coisa que só crianças querem, não acha?

 - Não vá julgando essas coisas por conta própria!

 Saindo só com as roupas do corpo, o Pelotão dos Zeros-à-Esquerda saia da sala enquanto faziam barulho.

 Depois de abrir a porta, Takeru percebeu que Mari ainda estava parada dentro da sala do pelotão.

 - Mari? Venha cá, estamos de saída.

 Ela só ficou parada lá. Pelo olhar em seu rosto, era claro o fato de que ela não fazia ideia do que fazer.

 - Será mesmo que... Está tudo bem se... Eu acompanhar vocês?

 - Ei, de onde você tirou essa?

 - Vamos logo – disse Takeru quanto tomou sua mão.

 - Será que podemos ir logo? Não gosto de moças que enrolam para sair.

 - Venha de uma vez, peitinhos.

 Takeru, Usagi, Ikaruga  Lapis esperavam na porta por Mari.

 Ela mostrou um sorriso modesto e alegre e tomou a mão de Takeru.


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