TG35SS - Volume 2: A Luta da Bruxa - Uma Batalha Pela Esperança: Prólogo

 

 

-          …Não vou te perdoar…!

 A paciência de Nikaidou Mari estava se esgotando a medida em que ela avançava, cheia de hostilidade.

 O local era as ruínas de uma casa velha na periferia e o tempo era após a batalha contra os caçadores de bruxas, a qual levou a derrota para certo clérigo.

 Havia debaixo do toldo velho da varanda um jovem homem despreocupado segurando um livro em sua mão.

 O necromante Haunted, líder da [Valhalla (Culto Ilusório)]. Além de necromante, ele era também um alquimista e um invocador. Um antigo padre da igreja e feiticeiro designado a uma classe S de perigo.

 - Não vai perdoar o quê, Mari-san?

 Vendo o sorriso em uma cara completamente lavada, o cabelo de Mari despenteou-se pela fúria.

 Magia fluía do corpo dela fazendo velas e cadeiras ao redor vibrarem.

 - Você não manteve sua palavra... Mentiu para mim sobre não envolver pessoas inocentes, essa era uma das condições para que eu cooperasse.

 Haunted fechou seu livro e se aproximou de Mari com as mãos dobradas atrás das costas.

 Com passos desconcertantes, causando calafrios assim como um fantasma, ele veio até ela.

 - Eu não menti. Nesse mundo não há espectadores ou inocentes.

 Depois de expor sua teoria absurda, Haunted mostrou um alegre sorriso.

 - E também, seria chato sem uma enorme audiência, não? Era a invocação do herói, certo? O chamado de um grande homem! Depois de eu ter me dado ao trabalho de convidar alguém do país de Hades, ter apenas a Inquisição como público seria muito sem-graça. Eu acho que deveria ser agradecido, aliás. Um espetáculo tão incrível como aquele não vai ser esquecido tão cedo.

 O corpo de Haunted tremia de alegria.

 Convulsionando e hiperventilando, ele se lembrou de quando o Herói aterrorizou a cidade e espalhou os gritos de humanos.

 Pelo rosto do necromante corria uma única lágrima.

 - Não consigo parar de relembrar daquele momento... Aquela manifestação de emoções, aquilo é que é a humanidade. Você também acha, certo? Que aquele brilho efêmero nos olhos de cada um antes da morte é incrível... Aquela melodia! Mas no final das contas, a marcha fúnebre está acima de tudo!

 Haunted gritava em êxtase, abrindo os braços como um verdadeiro lunático.

 Os olhos de Mari brilhavam em um vermelho e sua energia mágica explodiu. Candelabros e cadeiras voaram, cheiro de fósforo queimado surgia nas paredes ao seu redor.

  - Era essa a expressão que eu queria ver em seu rosto. Ah, que deleite para meus olhos! Essa sua expressão combina muito bem com você!

 Ante o homem que se contorci, Mari fechou os olhos e chegou a uma conclusão:

 Desde o início, acreditar naquele homem fora um erro.

 Ele não deveria continuar vivendo nesse mundo. Tudo nele era podre.

 Ela pensou em uma única solução, aniquilação. Dar a ele um fim absoluto onde nem uma única célula de seu corpo restaria.

 - Não me venha com isso!!

 De repente, um círculo mágico apareceu ao redor de Mari.

 A cor da magia dela era difícil de se descrever, a melhor aproximação é dizer que seria como “luz das sete cores fluindo em conjunto”.

 Assim como uma ilusão refletida no fantasmagórico céu boreal.

 Já imaginando uma cena do massacre, ela preparou uma fórmula dentro de seu cérebro enquanto magia transbordava de seu corpo.

 Bem nesse instante,

 Mari disparou um raio de quase dois metros de diâmetro, atacando Haunted.

 O pilar de luz perfurou as nuvens no céu, engolindo o clérigo como um sol.

 A igreja era preenchida por aquela coluna de luz, escapando para o infinito do espaço.

 Mari apoiou uma das mãos no joelho, respirando pesadamente.

 - ...Droga – resmungou ela após confirmar com os próprios olhos que o ataque havia falhado.

 A igreja estava parcialmente destruída e nuvens de poeira se levantavam. Mas parado sob a luz lunar estava Haunted, perfeitamente intocado.

 Emanando uma barreira negra ao redor de seu corpo, o rosto dele de distorcia em um sorriso bizarro.

 - ...Desespero.

 Haunted recitou as últimas palavras do nome de uma magia. Logo em seguida, uma parte de sua sombra criou espinhos e se ramificou, pulando na perna de Mari e restringindo-a.

 - <Jardim de Beladona (Horto do Desespero)>

 Uma magia de invocação sob contrato. A magia traz uma agregação de criaturas mágicas na forma de um pântano espinhoso que segue as vontades de seu contratador. Caso haja apenas uma <Flor de Beladona>, não haveria muito risco, mas um grupo deles representava uma ameaça. Invocações de organismos mágicos agregados pediria por uma bruxa não-ortodoxa carregando energia mágica em grandes quantidades.

 - Você não deveria usar magia de ataque em um lugar como esse. Você, assim como eu, é uma bruxa <Portadora de Elemento Antigo (Feiticeiro do passado)>. Deveria saber que usar uma magia dessas pode acabar destruindo a cidade.

Haunted lecionava a garota enquanto limpava a poeira de suas vestes.

 - Sem sequer precisar recitar o nome e o encantamento da magia, mas ainda assim ser capaz de executar um ataque tão destrutivo... Nada menos da chamada <Bruxa da Aurora:.

 - .........

 - Você é impulsiva mas penso nisso como um dos seus pontos atraentes. Aliás, está bem assim? Me atacar de repente, quero dizer. Atacar a mim significa trair toda a <Valhalla(Culto Ilusório)>. Sua família protegida aqui, as crianças talvez não saiam dessa seguras, certo?

 Protestando contra a decisão de Haunted, Mari arranhou os dentes com todas as forças.

 - Eu gosto da Mari-san mais honesta. Sair do controle de vez em quanto é adorável.

 - ...Ngh.

 - Vamos nos esquecer do ataque de agora a pouco e voltar para o quartel general juntos.

 Banhado na luz filtrada por vidros manchados, Haunted estendeu os braços para Mari.

 Os espinhos que se agarravam na canela de Mari viraram poeira e ela caiu depois de libertada, afastando as mãos de Haunted.

 Mas os dedos de Haunted pulsaram por um instante.

 - ...Mil perdões, parece que receberemos visitas. – Disse ele subitamente.

 Mari se perguntava do que se tratava quando no momento seguinte a porta foi vigorosamente aberta.

 - Somos da Inquisição! Coloquem as mãos atrás da cabeça e se ajoelhem!

 Ela se virou para encontrar dois inquisidores, um homem e uma mulher armados com rifles.

 Não, não eram inquisidores. Os uniformes eram minimamente diferentes ao observar com mais atenção. Eram duas pessoas de um pelotão de testes da Academia Anti-Magia.

 Mari pressentiu uma batalha. Haunted não pouparia a dupla.

 - Vocês dois! Fujam!

 - Ela tentou dar a largada e correr em direção aos estudantes, mas espinhos se entrelaçaram por entre suas pernas e ela caiu no mesmo lugar.

 Logo em seguida, o desespero entrou em erupção.

 *zwish*

 Repentinamente, como se todo o lugar estivesse se alagando, uma sombra negra cobriu todo o interior da igreja, do teto até o chão, tingindo cada canto das paredes. E então, espinhos brotaram simultaneamente de todas as partes e sem hesitação, assaltaram os dois membros do pelotão.

 - Argh! O que é ist- Gah!

 O rapaz estava sendo coberto por espinhos e nada além de um monte de ramos poderia ser visto.

 - Nãooo! Que coisa é essa..?!

 A garota estava aterrorizada apenas com a cena, ela estava frente a frente com uma criatura e recuou.

 Entretanto, antes que ela pudesse dar mais que três passos, uma sombra agarrou a perna da jovem.

 - Kyaaaaaaaaa!

 Tendo enroscado sua perna, ela caiu e foi engolida pelo pântano sem fundo.

 - M-me ajude! Ai...! Tem alguma coisa aqui dentro! Alguém! Isso dói! dói! dói! dói! Uwaaa-

 Gritos terríveis foram cortados quando o pântano engoliu completamente a garota.

 Mari soltou seu pé e correu em direção do rapaz preso.

 O jovem já havia sido lentamente fatiado pelos espinhos estrangulantes para que pudesse sofrer o máximo possível.

 - Não se mexa! Se não se mover, a magia não vai funcionar!

 - M-me tire daqui... Me... desamarre...

 - Eu vou ajudar! Não se mova para eu poder te ajudar.

 Mari tentava desatar os espinhos, mas cada um deles era um ser diferente. Sua magia era rejeitava porque ela tentava desfazer os nós como um todo.

 - ...Droga! Droga...Por quê...

 Se ela ativasse uma magia no corpo do garoto sem querer, o corpo dele quebraria por rejeição aos efeitos da magia.

 Quando uma magia feita para dissolver organismos mágicos atingia um humano por engano, essa pessoa simplesmente não conseguiria resistir a energia.

 Ela, por isso, arrancava desesperadamente os espinhos um por um.

 - Não vai adiantar, as plantas desse jardim crescerão até que a energia mágica delas acabe, mesmo que eu morra, elas vão crescer e crescer. - Haunted falava em um tom mais frio.

Ele esboçou um sorriso enquanto sentava no topo do altar. Os espinhos de sombras rasgavam os músculos e já chegavam nos ossos.

 Ainda assim, Mari continuou tentando salvar o garoto.

 Haunted girou a cabeça em desaprovação e suspirou.

 - Sua magia... Desculpe-me, mas acho que é um sonho inatingível. Para ser mais exato, a Inquisição sequer reconheceu sua magia ainda.

 - ...Mas que droga! Droga...

 - “Usar magia para fazer pessoas felizes”, não era? Perdão, mas... Isso é impossível.

 - Aaah... Aaaahhhhhh

 - Desde os primórdios, Magia é assim.

 Logo após Haunted acabar de falar, o garoto foi despedaçado bem em frente de Mari.

 Órgãos e sangue jorraram, manchando Mari. Ela estava em choque e ficou parada inerte no mesmo lugar.

 Vendo o sangue do jovem cobrir suas mãos, ela deixou cair lágrimas de seus olhos.

 Mais que decepcionada, Mari deixou cair a cabeça nos joelhos.

 No instante seguinte os portões da igreja reabriram. Uma nova luz adentrou agressivamente.

 - <Dullahans (Caçadores de Bruxas)> da inquisição, estamos prendendo a assassina em flagrante.

 - .........

 - Adicionalmente, você não tem direitos e não terá os serviços de um advogado. A partir de agora, todos os seus direitos humanos serão revogados.

 Mari olhou atrás para o altar.

 Haunted não estava mais lá.

 Mari não carregava mais nenhuma intenção ou vontade de resistir.

 A boca da arma estava apontada para sua cabeça, ela foi algemada e colocada de pé.

 Acabou. Ela provavelmente seria aprisionada na cela mais protegida da Inquisição.

 Quando tal pensamento passou pela sua mente, ela sentiu algo vindo da carteira em seu bolso.

 Não um calor comum, mas algo de origem mágica.

 - .....Isso deve ser...

 Estando algemada, Mari entrou em desespero.

 “ Essa não!”

 Ela projetou uma barreira em volta de sua cabeça, mas não foi rápida o bastante.

 Em seu cérebro, houve um pequeno estalo de algo sendo cortado e Mari caiu no lugar em que estava.

 - Ei, você! O que está fazendo? O que houve?

 Enquanto sua consciência se dissolvia, ela ouvia a voz do inquisidor e outros ruídos.

 Mari, sentido que estava perdendo as memórias, desmaiou em silêncio.

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