TG35SS - Volume 2: A Luta da Bruxa - Uma Batalha Pela Esperança: Capítulo 1 - A Bruxa com Amnésia [Parte 3]

 

                                                        Parte 3

 

 Construído perto da área militar restrita, encontrava-se o edifício de administração.

 Takeru e os outros membros subiram até o último andar, chegando até a porta para a sala do diretor.

 Foi quando algumas pessoas saíram de dentro de lá.

 Enquanto Takeru imaginava quem eles poderiam ser, Ouka parou de andar de repente.

 - Hum? O que foi?

 - ...Não, não é nada.

 Com uma expressão de quem se sentia mal, Ouka coçou o rosto.

 - Conhecidos seus?

 Ao olhar ele percebeu Ouka, que estava parada e rígida olhando para a pessoa que havia saído da sala e caminhava em direção a ela.

 - Ootori Ouka.

 Ouvindo aquela voz, Takeru se assustou e seus ombros deram um pequeno pulo.

 Ainda mais que ele, Ouka saltou de surpresa.

 Era um homem alto e forte com olhos perspicazes. A julgar pela aparência, ele aparentava ter vinte anos, mas a atmosfera que o cercava fazia-o parecer muito mais maduro.

 Seu cabelo era de um negro nanquim, assim como seu uniforme. Apesar disso, era um homem cujo preto nas vestes não lhe caia tão bem.

 Takeru sussurrou discretamente no ouvido de Ouka para confirmar a situação.

 - Quem é ele?

 Perguntada em voz baixa, Ouka respondeu com voz e lábios trêmulos:

 - Meu superior imediato... De quando eu estava na Inquisição.

 - Ah, significa que ele é dos <Dullahans (Caçadores de Bruxas)>?

 Chegando a tal dedução, Takeru pousou a mão no queixo, simultaneamente os outros dois homens que assistiam imóveis olhavam-no.

 - Para que são esses cochichos?

 - Mi-mil perdões!

 Ouka prontamente cumprimentou os dois com a saudação característica da Inquisição.

 - Saudações são desnecessárias. Você agora é uma estudante.

 Com uma certa dor no rosto, Ouka parou com a saudação.

 Superior imediato de Ouka seria a pessoa de maior influência entre todos os <Dullahans>.

 Ouka estava desnecessariamente tensa. O homem verificou o rosto de todos os integrantes do esquadrão dos Zeros-à-Esquerda e com os olhos fechados disse:

 - Primeira divisão dos investigadores anti-magia, <Tropa de choque negra (Exterminadores)>. Sou Kurogane Hayato, capitão do EXE. Ouvi falar sobre vocês do diretor, parece que vocês tomaram conta de Ootori, certo?

 Ele encarou as outras três pessoas ao lado de Ouka.

 Os olhos de Hayato pareciam ainda mais ameaçadores do que o de Takeru, tanto que os três outros além de Ikaruga tremiam de medo. Ikaruga, despreocupada, mascava um chiclete de menta.

 Sem se importar com o nervosismo dos outros mais silenciosos, ele se virou para Ouka.

 - E então? Conseguiu se acostumar bem?

 - Aahh.. Erm, eu...

 - ...Como sempre... Bem, sem problemas.

 Parecia que ele desejava soltar um suspiro no final, mas ao mesmo tempo parecia que ele evitava mostrar suas emoções.

 - Kusanagi Takeru, ele é um de vocês?

 - Ah... S-sim senhor. S-sou eu!

 Chamado por Hayato, ele deu um passo à frente. Hayato observou Takeru cuidadosamente

 Depois de analisá-lo por um momento, ele fechou os olhos e pôs a mão sobre o ombro de Takeru.

 - Sobre Ootori, conto com você.

 - Ce-certo?

 - Depois de dizer tudo o que queria, Hayato se virou e caminhou para fora da sala de espera.

 Uma grande surpresa dada a primeira impressão dele. Apesar de não ter entendido totalmente as intenções, Takeru sentia que ele só não era muito bom em conversar.

 “Não imaginava que a mão dele seria quente”

 - Uma pessoa meio difícil de se entender. Mas não acho que ele seja alguém mau... Ootori, o que você sabe sobre ele?

 Olhando para ela, Takeru viu Ouka suspirar de alívio e se apoiar na parede.

 - ... Humm, senhorita Ootori?

 - E-eu... Quando capitão Kurogane assumiu o cargo, eu era uma garota-problema e apesar disso, ele sempre me defendia

 - Ooohh... que bom. Ele é um cara legal então.

 - Não tenho tanta certeza disso.... Eu não conheço o trabalho dele fora dos olhares públicos, acabei de ser demovida, afinal... Não, isso foi por minha culpa mesmo. Ainda assim, a impressão de admiração e medo é a que fica em primeiro plano.

 - Igualdade de gênero. Soa como um dos ideais do capitão Kurogane.

 Ouka tremia com a face azul.

 Ver Ouka assustada naquele nível era algo novo. Takeru decidiu não tocar mais no assunto.

 Deixando o ocorrido de lado, ele bateu na porta do diretor.

 *Toc toc*

 - Podem entrar. Venham, meus queridos~~

 Uma voz estranhamente amigável era ouvida por de trás daquela porta. A voz irritava Takeru levemente, mas ele virou e empurrou a maçaneta.

 E foi recebido:

 - Olá Olá Olá! Obrigado por virem, minhas crianças!

 O grudento diretor em seu auge. O branco de seus cabelos e terno estava ofuscante como sempre.

 Todos tinham cara de quem já estavam cheios daquilo.

 - Não sei por que, mas parece que todos vocês estão com carinhas tão borocoxós! Vocês deveriam seguir caminhando felizes, um rosto desses só vai dar rugas e calvície!

 Sem fazer ideia do motivo por trás do desânimo, Sougetsu batia palmas, aumentando a tensão de Takeru.

 - Hum... o que é desta vez?

 - Oh, mas olha só quem está com pressa. Vocês estão mais motivados agora? Então eu vou pular direto para o tópico.

 Sougetsu bateu uma palma.

 - Desta vez, eu tenho uma missão especial para todos vocês. Foi por isso que eu chamei todos vocês aqui, permitindo até que perdessem a segunda aula.

 - Espere um pouco aí.

 Ouvindo uma “Missão Especial”, Takeru interrompeu a apresentação de Sougetsu.

 - Eu entendo que eu fui chamado aqui porque prometi cooperar com o diretor depois do contrato com a Devoradora de Relíquias, Lapis. Mas por favor não envolva os outros.

 Com uma intenção bem definida, Takeru parou na frente do diretor depois de dizer claramente o que queria.

 Se fosse uma ‘Missão Especial’ como da última vez, Takeru imaginava que poderia ser tão crítico quanto um ataque do Herói.

 Ele não conseguia confiar no homem chamado Ootori Sougetsu. Ele teve certeza daquilo um mês atrás e apesar de pretender colaborar com as demandas do diretor, ele não poderia envolver seus companheiros.

 - Eu entendo como se sente. Mas, sabe, tirando a batalha com o Herói, eles não estão completamente “Não-envolvidos”.

 - ...Ou seja, você não vai mudar de ideia.

 - Acho que você está me entendendo mal. Não vou dar ordens para ninguém. Cabe às três decidirem se vão aceitar ou não.

 Takeru se virou para ver se elas o apoiariam.

 As três desviavam o olhar.

 - Vocês...

 - E-eu acho que é uma boa oportunidade para melhorar nossa pontuação! Não tenho intenção de virarmos “vendidos”, mas é uma boa chance de fazer com que a diretoria lembre de nossos nomes.

 - Eu sou desde antes uma contratadora de um Devorador de Relíquias. Trabalharmos juntos sob essas condições é um dever! Além do mais... Você prometeu, não?

 Ele estava incerto sobre as motivações de Usagi e Ouka. Mas por que Ikaruga?

 Takeru olhou para ela, procurando respostas. Ikaruga colocou outro doce de menta na boca e disse:

 - Porque podemos matar aula?

 Ele passou a acreditar que nunca conseguiria entender o que se passa por aqueles circuitos de pensamento.

 - Certo, chega deste sitcom. Todos os membros do 35° pelotão receberão uma missão especial conjunta desta vez.

 Ainda insatisfeito, Takeru não poderia levar em conta os prós e contras da participação de seus colegas antes de saber do que a missão se tratava, do contrário, ele faria um julgamento precipitado.

 Pensando ser o momento para explicar o conteúdo da missão, Sougetsu olhou para o quarto no fundo do escritório.

 - Mari-Kun, pode entrar.

 (Nota de tradutor: o “-kun” pode ser usado por um patrão se referindo a uma subordinada, demonstrando respeito e igualdade, ou pode ser usado como sufixo para garotos. Mas talvez seja uma forma de Sougetsu brincar com o aspecto meio “masculino” da Mari.)

 Sougetsu chamou um nome não familiar. Depois de alguns instantes, eles ouviram a porta do quarto se abrir. Uma garota apareceu.

 Vestindo um uniforme novo da Academia Anti-magia, ela vinha até o lado do diretor com uma cara amarrada. Apesar de usar o uniforme de verão, ela estava com uma boina na cabeça e um cachecol enrolado em seu pescoço mesmo não fazendo frio.

 - Essa garota é Nikaido Mari-kun. Quero que vocês a protejam.

 - Seremos... Guarda-costas?

 - Ah, falando nisso. Vocês conhecem o conselho ético?

 - ... Bem, sobre isso, um pouco.

 “ Por que esse nome surgiu no meio da conversa?” - Pensou Takeru.

 O Comitê Ético e o Conselho da Ética de Julgamento das Bruxas (CEJB)

 Os nomes se referiam às organizações de direitos que protegiam bruxas, advogando contra discriminação e a prisão das mesmas, muitas vezes criticando o uso excessivo de força nos casos de “legítima defesa”.

 Lidar com e fiscalizar o tratamento das bruxas era o principal papel das instituições.

 A atuação da Inquisição era inquestionável até então. Porém, nos últimos anos, era notada uma influência do comitê que não podia ser ignorada.

 - Para falar a verdade, sob um pedido do Comitê Ético, nós vamos implementar um sistema de admissão para bruxas em fase de testes. Você sabe desse sistema, certo?

 Takeru já ouvira falar a respeito também.

 - Caso você não se recorde, é um sistema que permite as bruxas a se acostumar melhor com a presença da Inquisição. – Ruidosamente explicou Sougetsu.

 Ouka, parada atrás dele, deu um passo a frente com uma expressão tenebrosa.

 - Diretor... Você não quer dizer que...!

 Ela se virou para Nikaido Mari, parada ao lado do despreocupado Takeru.

 Sougetsu confirmou seu medo e ainda riu alegre.

 - Sim. Nikaidou Mari-kun é sem dúvidas uma bruxa.

 Takeru estava um pouco surpreso enquanto Ouka afiava seu olhar ainda mais.

 - Que inesperado. Você, que negou todos os pedidos do Comitê, decidiu aceitar só agora por livre e espontânea vontade. Por que será?

 - Não é como se eu me recusasse a seguir tudo o que eles pedem. Estivemos cooperando em investigações e acordos bélicos, além do mais, eu já pensava que poderia não ser uma má ideia faz algum tempo. Já que não há problemas por garantia do Gleipnir, julguei que não faria mal tentar.

 Gleipnir era um colar eletrônico que controlava a energia mágica em uma bruxa.

 O aparelho era feito para bruxas não-criminosas, resultado da parceria entre a Inquisição e a Companhia de Desenvolvimento Bélico, Alchemist. Uma bruxa sem incidentes criminais usando um Gleipnir poderia deixar a área militar restrita e viver uma vida normal.

 Takeru via bruxos e bruxas nas ruas usando aqueles eletrônicos.

 Ainda havia o preconceito contra elas, mas não era tão grave quanto no passado.

 Ver bruxas e não-bruxas na rua, conversando e cuidando normalmente de suas vidas era um cenário comum.

 Por causa disso, mesmo ouvindo que Mari era uma bruxa, Takeru não estava tão espantado.

 - Eu sou contra! – Protestou Ouka.

 - A Inquisição foi feita para julgar bruxas, aceitar uma delas em um de seus ramos é simplesmente ilógico e contraditório!

 - Não julgamos bruxas. Somos uma organização feita para julgar as “bruxas malvadas”, então inocentes não são nossos inimigos. E eu disse antes, mas proteger as bruxas faz parte do nosso trabalho também.

 - Eu compreendo! Mas por que temos que proteger ela dentro da própria inquisição? Talvez não para os estudantes, mas é perigoso demais para ela!

 Ouka lançava um argumento bastante convincente.

 A Inquisição fora construída dentro da filosofia da luta contra toda forma de magia. Era necessário mostrar uma atitude adequada e comprometer-se com ela. De outra forma, a hipocrisia abalaria todo o significado da existência da Inquisição.

 Caso a polícia quebrasse uma lei, eles perderiam a confiança. Se a polícia precisasse da ajuda de um criminoso para prender outro criminoso, eles seriam taxados de incompetentes.

 Ainda que pudesse ser feita a analogia com a presença de Devoradores de Relíquias na Inquisição, se surgisse uma situação onde ela fosse forçada a usar magia para competir com magia, a opinião pública sobre a Inquisição se tornaria muito mais cética com todo o cenário.

 - Sei como você se sente, mas eu gostaria que você não misturasse suas convicções pessoas nisso.

 - N-não é por causa das minhas convicções pessoais!

 - Seu ódio fervoroso pelas bruxas e suas consequências no serviço não são segredo para ninguém.

 - ...São dois casos isolados...!

 - Não importa o que diga, não haverá mudanças nos termos. Para erradicar a discriminação contra as bruxas, continuaremos aceitando-as no futuro.

 Incapaz de aceitar a decisão de Sougetsu, Ouka cerrou os punhos e encarou o chão.

 - Ela será a pioneira neste espetáculo. Mari-san vá cumprimentá-los.

 Sorridente e animado, ele encorajou Mari, que estava esperando um pouco afastada para se apresentar.

 Depois de dar um passo à frente, Mari olhou por de trás da franja

 - ...Oi.

 Ela abaixou a cabeça e recuou alguns passos.

 Não havia nada demais em Takeru, mas havia uma aura negativa cercando os outros membros do pelotão, cujas caras estavam amarradas.

 - Acho que vou deixar vocês mesmos tomando conta de toda a escolta. Mari-kun não sabe muito sobre aqui, então quero que vocês a ajudem em tudo que puderem.

 - Por que nós? Não seria muito melhor procurar um inquisidor profissional para a tarefa?

 No tom de voz de Ouka havia espinhos e ácido, Sougetsu levantou o dedo para se explicar.

 - O que as pessoas pensariam se vissem um inquisidor como escolta? Já que estudantes como vocês estão convenientemente aqui... Ups, isso foi um pouco rude de minha parte. Já que um talento tão exímio como o de vocês não pode ser desperdiçado, coloquemos ele a um bom e adequado uso.

 Ele havia deixado escapar as verdadeiras intenções.

 - Antes que eu me esqueça, certifiquem-se de manter a identidade da Mari-kun em segredo. Se dissermos de repente que uma bruxa foi aceita na escola, talvez ela sofra bullying? Quando todos estiverem acostumados com a presença dela e vice-versa, anunciaremos formalmente. Escutem: vocês precisam proteger ela.

 Proteger uma bruxa. Normalmente seria “ de uma”.

 Sougetsu ria vigorosamente enquanto enchia as costas de Takeru de tapinhas.

 - Isso é tudo! Conto com vocês, viu? Esqueçam a segunda aula, vão mostrar a escola para ela.

 Quando foram chamados, Takeru estava visitando o diretor com um pé atrás, isto porque ele pensou que seriam designados para uma missão arriscada. No final das contas ele estava aliviado pelo corta-clima que receberam.

 Uma missão daquele nível não deveria ser tão perigosa para o pelotão lidar.

 Aquela deveria ser uma missão de escolta só em nome, na prática eles tomariam conta de uma estudante transferida e a guiariam.

 Qualquer um poderia cumprir aquela missão, ou assim ele imaginava.

 “Não, espera um pouco”

 O alívio de Takeru foi temporário, ele se corrigiu em um instante.

 Pensou melhor sobre a “missão que poucos conseguiriam fazer”.

 “ ....Ele não quis dizer... O nosso pelotão?...”

 Timidamente Takeru olhou para trás.

 Ali as três emanavam auras de “Não tente se enturmar comigo”.

 E a sua frente estava Mari.

 - ...fuung.

 Mari desviou o olhar de Takeru, para quem ela estava olhando a algum tempo, e suspirou pelas narinas.

 Nem uma única pessoa queria cooperar.

 “Talvez essa seja na verdade uma missão difícil?”

 Ele sentia um frio correr pela espinha confirmando o pressentimento.

 E aquela era a missão especial para o pelotão dos Zeros-à-Esquerda.

 Que logo começava com problemas de relações pessoais.

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