TG35SS - Volume 3: As Gêmeas Alquimistas - O Grito das Alquimistas: Prólogo [Parte 1]
Alguns dias depois do
ataque durante o torneio.
- O que você quer?
Depois de entrar no escritório do diretor,
Ikaruga conversava com Sougetsu enquanto carregava uma expressão fadigada.
Ikaruga era a única estudante que falava
daquela forma com o diretor. O próprio Sougetsu já estava acostumado a isso,
mas daquela vez a situação era outra e ele não retornou com uma risada.
Ele estava sentado atrás da mesa, quieto, e
apontava um olhar questionador para Ikaruga.
O que mais aumentava a tensão era a presença
de Kurogane Hayato ao seu lado. Ele tinha uma expressão facial nula, exceto por
seus olhos, que pareciam como se ele estivesse em frente a um inimigo.
Qualquer outro estudante normal estaria rígido
ao estar no lugar de Ikaruga, mas não ela.
Sem qualquer senso de urgência, ela brincava
com a ponta de seus cabelos com um rosto relaxado e tranquilo.
- Desculpe pedir para você comparecer aqui.
Por ter sido repentino, vou perguntar sem enrolação.
- Seria uma ajuda e tanto.
- Basicamente, gostaria que você respondesse
breve e, acima de tudo, honestamente.
- Já está enrolando.
- ...Isso que está na foto, lhe parece
familiar?
Com as pontas dos dedos, Sougetsu deslizou
duas fotos através da mesa para Ikaruga.
Ela pegou ambas e esmiuçou os olhos,
observando com atenção.
Na fotografia estava o chassi do peito de um
Dragoon destruído por algum tipo de canhão.
A parte específica e o modelo era difícil de
determinar, mas Ikaruga imaginou que fosse a parte interna, mostrando o exterior
da unidade do núcleo da máquina.
- São os destroços de um dos Dragoons que
sofreram interferência mágica daquele necromante há alguns dias atrás, no
torneio que houve aqui – Disse Sougetsu.
- Claramente sim.
- Obviamente você sabe, mas os Dragoons da
Inquisição são revestidos por material anti-magia como Mithrill ou coisa
melhor. Isso para prevenir alguma magia de penetrar e tomar o controle. Se os
instrumentos internos pudessem sofrer qualquer interferência, seria muito fácil
pra uma bruxa mais experiente dominar o sistema.
- Isso é lógico, não?
- Mas há evidência que os Dragoons usados no
torneio já passaram por sabotagem mágica antes do tratamento com materiais
anti-magia. E isso permitiu que o necromante controlasse as unidades
remotamente.
- ...
- O Herói que atacou a academia, Rei Artur foi
invocado em um corpo artificial, sua alma foi simplesmente depositada em um
golem. Esse golem era bem... peculiar, por algum motivo, tecnologia usada em
Dragoons foi aplicada nele e a Herança Mágica, Excalibur... Não te parece
familiar?
- Era basicamente um protótipo de railgun, um
canhão de Gauss. Com algumas melhorias, mas basicamente a mesma coisa. Qualquer
um que estude um pouco pode concluir isso. Falando em conclusão, Que tal você
ir direto ao ponto ao invés de ficar insinuando?
Não que ela estivesse realmente hostil pela
conversa, ela estava mais para irritada.
Apesar de normalmente preferir responder com
alguma piada, desta vez ele afiou os olhos e perguntou com seriedade:
- Você... Sabe de alguma coisa a respeito?
Sob o olhar inquisitivo do diretor, Ikaruga
estava chegando ao limite.
- O que você implica com isso?
- Você é uma Suginami. Não estava estudando
com os “Alquimistas” até completar os 11 anos de idade?
- ..................
- [Crianças Projetadas(Gênios Artificiais)]...
Por ser um deles eu a chamei achando que pudesse saber de algo.
[Crianças
Projetadas(Gênios Artificiais)], ao ouvir aquilo, Ikaruga soltou um suspiro
frustrado.
Diziam que o fundador da empresa Alchemist já
apareceu há vários séculos atrás, nos primórdios da Inquisição e época em que a
repressão às bruxas estava em seu auge. Temendo captura, os alquimistas
mantiveram seus experimentos em segredo e longe dos olhos públicos. Apesar da
punição ser reservada para bruxas, eles almejavam uma amalgama entre magia e
ciência. Já que em certos pontos os experimentos eram semelhantes à ciência
tradicional, a Inquisição e os alquimistas começaram a cooperar. Era assim que
os livros de história contavam a origem da relação entre as duas organizações.
Alchemist se desenvolveu ainda mais próxima da
ciência e tecnologia e era uma famosa e proeminente parte da indústria,
principalmente armamentista.
No entanto, o problema estava na percepção
pública, que permanecia imutável: Alchemist era criticada por falta de ética e
experimentos desumanos.
Dentre eles, havia um que sequer havia se
tornado público: bebês projetados.
Para criar excelentes pesquisadores, os
alquimistas começaram a trabalhar com engenharia genética por muito tempo. O
sobrenome “Suginami”, não era um nome de família, mas uma identificação
implícita daqueles que participaram ou foram produto da pesquisa especial da
Alchemist. Era a prova de ter envolvimento com [Crianças Projetadas(Gênios
Artificiais)].
Ikaruga era uma dessas [Crianças
Projetadas(Gênios Artificiais)].
- Qualquer coisa ajuda. Se souber algo,
gostaria que me contasse.
- Eu já não falei tudo? Eu entrego toda a
informação que tenho já que não quero perder o escudo político da Inquisição,
certo?
Mesmo pesando as perdas e ganhos em sua mente,
Ikaruga xingava mentalmente.
- Ahh, parece que você tinha isso pra falar.
Mas Ainda sinto que não escutei algo importante de você.
Sougetsu, que até então tinha um olhar sério,
agora fazia seu sorriso habitual.
Intencionalmente, Ikaruga quase soltou um
“tsk”
- Informações que eu tenho...? Não sobrou mais
nada pra contar. Agora, se me dão licença.
Dizendo isso, ela devolveu as fotos jogando-as
na mesa e estava prestes a se virar quando,
- Puxa, mas eu ainda não tinha terminado. Olhe
essas outras duas fotos.
Sougetsu instruiu a olhar as fotos com o
indicador.
Completamente farta, Ikaruga dirigiu sua linha
de visão para as fotos na mesa.
- E o que seria... isso? Borrado desse jeito
eu não consigo enxergar nada.
- Ah, foi mal por isso. É porque essa foto foi
tirada às pressas por um infiltrado dos Banshee então a qualidade não é das
melhores. A pessoa que tirou foi morta depois de enviar a imagem, mas isso... é
uma reunião.
Sougetsu levou a mão ao queixo e, enquanto
angulava a cabeça, encarou intensamente Ikaruga.
- <Matriz Perdida (Cristal Ajin)>. Você
deve ter ao menos ouvido falar sobre, não? Uma herança mágica historicamente
conhecida.
Ikaruga assentiu, indiferente.
- Basicamente é uma parte do corpo de certa
criatura mitológica, sabe-se que as células estão intactas e preservadas em um
material negro com propriedades anti-magia, o que fez com que elas não
envelhecessem ao emanar magia. No entanto, mesmo isso não consegue parar o
fluxo do tempo e a integridade do cristal pode não durar por muito mais tempo.
- ...............
- Costumava ser algo de admiração da nobreza e
burguesia há algum tempo. A par de fósseis, obras de artes antigas e outros
luxos por ser antiguidade. Mas as eras vão e vem, agora que a tecnologia
avançou esse artefato se tornou uma ameaça de grau maior.
Depois de puxar a foto de baixo para a vista,
ele apontou a foto da <Matriz Perdida (Cristal Ajin)>.
- Esse é uma <Matriz Perdida (Cristal
Ajin)>.de um elfo negro, Quinta fabrica de desenvolvimento bélico da
Alchemist. Parece estar armazenada no nível 6 do complexo de pesquisa.
- Alchemist é uma companhia de produção de
armamentos e tem sido assim por um longo tempo, biotecnologia não é
especialidade deles.
- Jura? Nesse caso, eles estão planejando
desenvolver uma arma e usa-la. Ao pretender reviver elfos e usa-los como armas
eles claramente violam a lei.
Era uma ideia fora da realidade.
Os organismos fantásticos chamados
popularmente de elfos foram confirmados extintos depois da Guerra de Caça às
Bruxas há 150 anos atrás.
Os elfos e seus círculos mágicos. Uso de magia
para eles era tão natural e fácil quanto respirar ou mover os braços.
Ainda os mais complexos e difíceis feitiços,
que levariam horas para ativar, seriam conjurados em questão de instantes. A
existência dessas criaturas mágicas era provavelmente tão perigosa quanto
dragões.
Semelhante à situação da invocação do Herói,
as bruxas capturariam elfos negros e aplicariam hipnose ou algum tipo de
lavagem mental para que eles atacassem humanos. Esse tipo de história sempre
circulava em outros tempos.
Por causa de uma única criatura, New York,
Indonésia, Paris, Hokkaido e outras cidades menores foram apagadas do mapa.
No fim, a raça dos elfos negros fora extinta
durante a Guerra de Caça-as-Bruxas, a custo de incontáveis vidas e outros danos
à humanidade.
Reviver uma monstruosidade era um ato
extremamente perigoso.
- O preço dessa informação foram as vidas de
agentes Banshee. Ainda segundo eles, os experimentos para a restauração dos
elfos beira o sucesso, só faltaria...
- ................
- Células em perfeitas condições. Não parece ser fabricação deles. Apesar dos
esforços para coletar alguma amostra assim, eles não conseguiram achar nenhuma.
Nada. Até quatro anos atrás, isto é. A <Matriz Perdida (Cristal Ajin)>
estava em um estado bem decente e foi tomada por um certo alguém... Ah sim,
outro rebuliço que havia era o desaparecimento de vários documentos.
Sougetsu olhou para o rosto de Ikaruga.
Como se sugerisse “você sabe de algo?”
Ikaruga balançou a cabeça com ares de
desistência.
- A história é ridícula. Não houve nenhum
exemple nem perto de restauração biológica de algum organismo fantástico, é
impossível do ponto de vista científico. A <Matriz Perdida (Cristal
Ajin)> é perigosa justamente pela quantidade absurda de magia acumulada
dentro. Olha... Eu estou cansada e minha garganta dói, já deu, não?
Dizendo isso, Ikaruga deixou a sala do Diretor
antes de esperar qualquer resposta.
Sougetsu e Hayato
foram deixados para trás, depois de um breve momento, eles fecharam os olhos.
- Obscuro, não?
- De fato. Ela ainda mantém comunicações com
Alchemist, isso não há dúvidas. O escudo que ela preparou para Ouka durante o
ataque no torneio... Não é algo que a inquisição possa produzir, muito menos
estudantes.
- Alchemist tem o monopólio da tecnologia para
processamento de Cristal Azul. Antes de tudo, para todos os estudantes que
usarem materiais ou modificações ilegais, eu recomendo que você capture eles –
Sugeriu Hayato.
Ignorando o conselho de Hayato, Sougetsu
inclinou em sua cadeira e apoiou os pés na sua mesa.
Repousou as mãos atrás da cabeça e um sorriso
distorcido se formou no canto do rosto.
- Ai ai, nada bom. E pensar que teria um
traidor entre meus queridos estudantes? Devo ser um péssimo diretor.
- Peço desculpas com antecedência. Mas o
senhor parece estar se divertindo.
- O quê? Não é verdade, poxa. Há um traidor
dentre os estudantes que eu tanto amo? Não tem como eu estar contente com uma
coisa dessas.
- Sinto muito pela franqueza. No entanto, não
podemos ter perdão. Proponho conduzirmos uma investigação minuciosa para eliminar
qualquer dúvida.
- Qual sua opinião sobre a melhor conduta
nesse caso?
- Apreenda Suginami. Interrogue usando tortura
se for necessário até que ela nos dê a informação necessária. Use como ficha de
negociação no final.
Rindo pelo nariz com as palavras de Hayato,
Sougetsu olhou diretamente a ele.
Hayato permaneceu olhando Sougetsu, sem mover
um músculo.
Ele não era estúpido o suficiente para pensar
que poderia descobrir algo observando o Diretor.
Sougetsu conseguiu verificar a relevância de
Ikaaruga e o tópico dos elfos. Era um material bom o suficiente para ser usado
tanto como moeda de acordo como ameaça.
Justamente porque a situação da Valhalla e
suas relações a Alchemist se tornara um tema crucial, eles deveriam se
aproveitar da fraqueza da empresa e criar um cenário onde seriam obrigados a
tomar um lado, certamente o da Inquisição.
“...Não.”
Hayato franziu o cenho, assumindo o pior dos
casos.
Era possível que Sougetsu não hesitasse antes
de iniciar uma guerra contra Alchemist.
Esmagar a empresa com um ataque frontal,
recrutar os cientistas para a Inquisição e incorporar sua tecnologia.
Mais do que manter o acordo, seu propósito era
simplesmente invasão.
Se tratando aquele homem, nada seria
impossível.
- Essa proposta, como pode ser tão entediante
e chata, não é?
Balançando sua cabeça, Sougetsu ignorou a
sugestão de Hayato.
- Parece que é aqui que deveríamos deixar ela
nadar “livremente”. Suginami-kun acabou de receber notícias sobre os
experimentos com elfos, devemos ver resultados em breve
- ..........
- Monte uma equipe de observação nela. Recrute
apenas os melhores.
Hayato examinou o que Sougetsu queria quando
disse para deixa-la ir.
Reunir material para chantagem, conduzir
investigação criminal ou invadir a Alchemist alegando procura de materiais
perigosos. Qual seria, ele se perguntava.
Seguindo para uma guerra com a empresa, havia
a possibilidade deste lado acabar perdendo, além do mais, o inimigo era uma
grande companhia.
A inquisição tinha a vantagem no número
absolutas, no entanto, quando grandes poderes estavam em jogo, um indivíduo
importante poderia mudar o curso da guerra. Sobre os atores envolvidos nesse
primeiro movimento, Hayato não permitiria o sacrifício de inquisidores alheios
à guerra que eles poderiam estar se envolvendo, mesmo que os benefícios da
guerra sejam tentadores.
Se Sougetsu estivesse tentando começar um
conflito, Hayato escolheria impedi-lo.
- Sim senhor. Eu mesmo farei o servi-
- Você é o cabeça dos <Dullahans (caçador
de bruxas)>, então pense o que parececria se alguém em seu cargo se
envolvesse. Isso me daria uma dor de cabeça mais tarde, então não.
- ..............
- E também, Suginami-kun tem um futuro
promissor pela frente. Gênio artificial ou não, ela é alguém que eu desejo
muito que se torne uma <Regin(Ferreiro)>. Ela já rejeitou minha proposta
uma vez, mas talvez me saia melhor se eu puder usar alguma fraqueza pra
persuadi-la. Quero ser o mais delicado possível nisso.
- ............ então organizarei a formação de
um esquadrão dos Banshee.
- Ah, e mais uma coisa....
Sougetsu puxou a cadeira e esboçou um sorriso
lunar, erguendo o indicador.
- Deixe com Kusanagi-kun e os outros. Se essas
crianças estiverem envolvidas, Suginami-kun talvez esteja disposta a permanecer
na Inquisição. Porque de algum jeito eles acabaram formando laços fortes, sabe?
- ........................
- É como um filme de espião, entende? A virada
de história ondne um dos agentes acaba se apaixonando no meio de uma missão de
infiltração... Eu fico ansioso por um desenvolvimento desses.
Hayato encarou Sougetsu, que sorria despreocupado.
Vazio, como o próprio abismo. Mas Sougetsu
permaneceu da maneira que estava.
Imaginando algo, Hayato lentamente fechou seus
olhos.
- Ou seja, tornar o 35° pelotão reféns para
garantir que Suginami continue conosco.
- Que perspectiva cruel.
- Apenas um palpite.
Mesmo depois da acusação, Sougetsu continuou a
sorrir como sempre.
Ainda que o inferno caia sobre a terra, a
postura deste homem nunca mudaria.
- Bem, então... Ficaremos ocupados – Disse o
diretor esfregando as mãos.
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